Vivemos em um tempo em que “pausar” se tornou quase sinônimo de “pegar o celular”. Depois de um dia cheio, parece natural abrir uma rede social, assistir a uma série ou mergulhar em vídeos curtos. Mas essa rotina, que dá a impressão de descanso, pode estar, na verdade, contribuindo para o aumento do cansaço, da ansiedade e da sensação de esgotamento mental.
A diferença entre descanso e distração
Descanso é o processo pelo qual o corpo e a mente se recuperam de um esforço. Ele envolve a redução de estímulos, o relaxamento físico e a desconexão mental. Já a distração pode parecer uma pausa, mas na verdade é uma forma de manter o cérebro em atividade, muitas vezes com estímulos intensos, como redes sociais, noticiários ou conteúdos vídeo-visuais acelerados.
O custo cognitivo da troca de tarefas
A neurociência mostra que nosso cérebro não executa tarefas em paralelo, mas sim alterna rapidamente entre elas. Esse fenômeno é conhecido como troca de contexto (context switching), e cada troca tem um alto custo cognitivo: consome energia, reduz o foco, afeta a memória e prejudica o desempenho.
→ Cada vez que você muda de um estímulo para outro (ex: da TV para o celular), seu cérebro precisa reorganizar recursos mentais. Isso explica por que estamos sempre cansados, mesmo quando “não fizemos muito”.
Efeitos da distração crônica
Manter o cérebro exposto continuamente a estímulos fragmentados reduz a capacidade de:
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Se concentrar
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Memorizar informações
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Processar emoções com clareza
→ Isso pode gerar sintomas como:
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Ansiedade
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Sensibilidade emocional
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Irritabilidade
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Sensação de lentidão mental
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Problemas de sono
Segundo estudos sobre regulação emocional, o excesso de estímulo externo pode desregular o eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal (HHA), relacionado ao estresse, levando a um estado de hipervigilância constante.
Por que confundimos distração com descanso?
O uso de distrações como forma de lidar com o cansaço é compreensível. Elas oferecem alívio imediato, são de fácil acesso e não exigem esforço. Mas seu efeito é superficial e temporário.
→ Em vez de restaurar, a distração apenas mascara os sintomas do cansaço e perpetua o ciclo de esgotamento.
Como cultivar o descanso verdadeiro?
Descansar de verdade exige intenção. Algumas práticas cientificamente reconhecidas para recuperação mental são:
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Estar em contato com a natureza
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Realizar pausas sem tela
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Praticar mindfulness ou meditação
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Tirar cochilos breves (power naps)
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Conversar com alguém em quem confia
→ Além disso, a terapia psicológica pode ajudar a:
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Compreender os padrões de autoexigência e fuga
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Criar uma rotina de autocuidado realista
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Desenvolver ferramentas para lidar com o estresse
Conclusão
Se você tem se sentido constantemente cansado, mesmo “descansando”, pode ser que esteja apenas se distraindo. O descanso verdadeiro é restaurador, intencional e respeita o ritmo do corpo e da mente.
Na Harmonie, nossos psicólogos podem te ajudar a identificar o que tem drenado sua energia e te apoiar na construção de um autocuidado mais gentil.
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Abraços
Fernanda Christina Mion
CRP 06/71074
Referências:
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Mark, G., Gudith, D., & Klocke, U. (2008). The cost of interrupted work: More speed and stress. Proceedings of the SIGCHI conference on Human Factors in Computing Systems.
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McEwen, B. S. (2007). Physiology and neurobiology of stress and adaptation: Central role of the brain. Physiological Reviews, 87(3), 873–904.